Nomes como Castelo Branco e Costa e Silva e Médici são os que mais batizam escolas;  para CNTE, homenagear criminosos militares é um horror para a escola pública brasileira -Divulgação/Facebook

Passados 60 anos desde o início do  golpe militar no Brasil, em 1964, ainda é comum ver nomes de presidentes desse período batizando ruas, pontes, rodovias e até mesmo escolas. De acordo com os microdados do Censo Escolar da educação Básica de 2023, nomes como Castelo Branco, Costa e Silva, Médici, Ernesto Geisel e Figueiredo batizavam mais de 600 instituições de ensino, da rede estadual e municipal país.

Os dados utilizados levam em conta as diferentes grafias dos nomes dos presidentes, desconsiderando homenagens a familiares e pessoas com o mesmo sobrenome, e que, segundo o Censo Escolar divulgado pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), ainda funcionam, oferecendo o ensino básico regular. Desde escolas da educação infantil até instituições que oferecem o ensino médio entraram na contagem.

Os presidentes da ditadura

Dos cinco presidentes que governaram no período da ditadura, o nome de Humberto de Alencar Castelo Branco (1964 a 1967), foi o mais utilizado. Cerca de 304 instituições carregavam variações do nome em sua identidade. 

Arthur da Costa e Silva (1967 a 1969), responsável pelo Ato Institucional n.º 5 (AI-5), aparece em segundo lugar, batizando 240 escolas.

O nome de Emílio Garrastazu Médici (1969 e 1974), que também foi chefe do Serviço Nacional de Informações (SNI), aparece em 98 instituições.

Ernesto Geisel, que governou entre 1974 e 1979, batiza 16 instituições.

João Baptista de Oliveira Figueiredo (1979 e 1985), nomeia 6 escolas. 

Teor de propaganda 

Em entrevista ao G1, a professora de história Raquel Elisa Cartoce, que pesquisou sobre estratégias de publicidade do regime militar, explicou que a expansão da rede pública de ensino a partir de 1970 foi uma medidas tomadas pelos militares não só para ampliar o número de brasileiros nas escolas, mas também foi uma forma de aumentar a influência no interior do Brasil.

Segundo ela, a expansão foi apenas quantitativa, e não focava no aumento da qualidade do ensino. “A ideia básica era formar filho de trabalhador para ser também trabalhador”, explicou. “E era uma possibilidade de espaço para a ditadura ocupar essas comunidades e dar sua identidade.”, relatou a professora Raquel ao G1.

Por não terem popularidade como outros presidentes eleitos por voto direto, destacou que “Esses ditadores buscavam meios artificiais para se destacar”, disse.

Para Heleno Araújo, presidente da Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação (CNTE), as homenagens a nomes ligados à ditadura militar são uma demonstração de falta de atenção apurada sobre a história do país. 

“Prejudica muito e deixa o país sem uma referência democrática na sua história. Em 1964, o golpe militar matou muita gente e exilou outras tantas. As pessoas precisam saber a verdade sobre o período do golpe. Homenagear criminosos militares é um horror para a escola pública brasileira.”, enfatiza.

“Devemos reagir e fazer o que muitas comunidades escolares já fizeram, trocando o nome da escola para colocar o nome do povo que, de fato, lutou em defesa das demandas e dos direitos da população.”, ele completa.

Saiba como mudar o nome da sua escola, clicando aqui: https://ditaduranuncamais.cnte.org.br/mude-o-nome-da-sua-escola/