A única sobrevivente do centro clandestino de tortura Casa da Morte, de Petrópolis, região serrana do Rio de Janeiro, Inês Etienne Romeu, faleceu no dia 27 de abril aos 72 anos de idade. Inês passou cerca de dois meses na casa, onde foi barbaramente torturada, violentada e presenciou vítimas da ditadura militar serem torturadas e mortas.
Inês nasceu em Pouso Alegre, Minas Gerais, mas mudou-se para São Paulo ainda na juventude, quando entrou para a Vanguarda Popular Revolucionária (VPR). Foi presa e sequestrada em maio de 1971, em São Paulo. Graças à luta da família e dos advogados, Inês foi entregue à Justiça e condenada à prisão perpétua, que a livrou da prisão clandestina.
Ela foi também a última presa política da ditadura militar libertada no Brasil, oito anos depois, em 1979, pela Lei da Anistia. Em 2009, recebeu o Prêmio Direitos Humanos, na categoria Direito à Memória e à Verdade, entregue pelo então presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Inês ajudou as comissões da Verdade na busca do paradeiro de presos políticos desaparecidos e na identificação de torturadores. Em seu depoimento, ela relatou ter sido obrigada a cozinhar nua, na frente dos carcereiros, e ter sido estuprada duas vezes por um deles. Inês Etienne identificou nove militantes de esquerda assassinados, segundo ela, na Casa da Morte.
Em 2003, aos 61 anos, Inês foi atacada por um marceneiro contratado para um serviço doméstico, com vários golpes na cabeça, o que a deixou com limitações neurológicas. O marceneiro nunca foi identificado. Atualmente, ela morava em Niterói, região metropolitana do Rio.
Este obituário foi publicado pelo portal EBC – reportagem de Flávia Vilela